Com a chegada da Páscoa, a Igreja recorda o mistério da
Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas este mistério
não é vivido apenas pela Igreja Católica, todas as igrejas cristãs e todos que
vivem o cristianismo reconhecem a passagem de Jesus pela morte para vida eterna
como o ato de Salvação de Deus, “a
saber: que Cristo havia de padecer e seria o primeiro que, pela ressurreição
dos mortos, havia de anunciar a luz ao povo judeu e aos pagãos” (At 26, 23).
A Paixão e Ressurreição de Jesus Cristo é descrita por
todos os evangelistas (Mateus 26ss, Marcus 14ss, Lucas 22ss e João 18ss),
narrando a Via Sacra que Jesus vivenciou – a prisão, o julgamento, a
condenação, a crucificação, a morte e por fim a ressurreição do Cristo.
Neste acontecimento, estão envolvidas muitas pessoas que
carregam grande significado para vida cristã, entre elas, Pôncio Pilatos. Que
mandou castigar Jesus e condenou-O a morte de cruz.
Pilatos foi o governador romano da província da Judeia,
entre os anos 26 d.C. a 36 d.C., durante o reinado do imperador Tibério. Não
existem muitos relatos históricos de sua vida e de seu governo, pouco se sabe
sobre ele, e há algumas especulações sobre como morreu. O que se sabe era que
ele também era a maior autoridade judicial da província.
Os historiadores Flávio Josefo e Filon de Alexandria
descrevem alguns fatos envolvendo Pilatos. Entre eles, está a ordem violenta do
governador para reprimir uma revolta dos judeus que manifestavam contra a
utilização do dinheiro do templo para construção de um aqueduto em Jerusalém,
episódio esse que estudiosos acredita ter sido mencionado pelo evangelista
Lucas (Lc 13,1).
E outro caso envolvendo Pilatos, ocorreu no ano 35 d.C., no
qual ele usou a força e a violência para conter uma multidão de samaritanos no
monte Gerizim. Este evento levou a morte muitas pessoas e após o ocorrido, os
samaritanos fizerem uma queixa ao superior de Pilatos, o governador da Síria,
Lúcio Vitélio. Ele ordenou que Pôncio fosse a Roma dar explicações ao imperador
Tibério, porém antes de chegar a capital do império, o imperador veio a
falecer.
A partir desse momento começa as especulações sobre Pôncio
Pilatos. Destituído do governo, alguns dizem que ele se arrependeu pela
condenação a Jesus e suicidou. Outros contam que o seu arrependimento o levou a
conversão e que viveu como cristão, fato descritos no Evangelho Apócrifo de
Nicodemos (ou Ata de Pilatos).
A Igreja Ortodoxa venera a esposa do governador, Claudia
Prócula, como santa por ter defendido Jesus sem conhecê-Lo, apenas vendo-O em
sonhos (Mt 27, 13). E o próprio Pilatos é considerado santo na tradição da
Igreja Ortodoxa Etíope.
Porém, o julgamento e a condenação de Pilatos a Jesus
Cristo marcaram a sua vida. Nos evangelhos é perceptível a sua atitude frente a
Jesus, o governador não encontrará motivos para condena-Lo a morte, “Pilatos convocou então os príncipes dos
sacerdotes, os magistrados e o povo, e disse-lhes: ‘apresentastes-me este homem
como agitador do povo, mas interrogando-o eu diante de vós, não achei culpado
de nenhum dos crimes de que o acusais. Nem tampouco Herodes, pois no-lo
devolveu. Portanto, ele nada fez que mereça a morte. Por isso, eu o soltarei
depois de o castigar’” (Lc 23, 13-16) e sabia que os fariseus e o sumo
sacerdote o entregará por inveja e medo (Mc 15, 10).
Pilatos temia a Cristo, reconhecia a Sua autoridade e pela
conversa que tiveram, procurava meios de livra-Lo da condenação, “Pilatos então lhe disse: ‘tu não me
respondes? Não sabes que tenho poder para te soltar e para te crucificar” (Jo
19, 10). Contudo Jesus sabia que era preciso passar pela cruz para que a
salvação se cumprisse na vida dos homens, e por esse motivo deixou ser
condenado.
E a pressão do povo levou-o a escolher o caminho mais fácil
(Mc 15, 15). Entretanto, não foi apenas o medo da multidão, o tumulto que
crescia e a pressão do sumo sacerdote – “Mas
os judeus gritavam: ‘se o soltares, não és amigo do imperador, porque todo o
que se faz rei se declara contra o imperador’” (Jo 19, 12) – Pilatos não
queria perder seu poder, seu controle, sua comodidade. Soltar a Jesus era
enfrentar o “sistema”, ir contra o mundo e abrir mão dos bens que conquistou:
riquezas e poder politico e jurídico.
Por isso, o governador condenou um inocente à morte, e
morte por cruz. E para tentar se livrar da culpa, se fez de inocente e
responsabilizou o povo pelo ato cruel que cometiam, “[Pilatos] fez com que lhe trouxessem água, lavou as mãos diante do
povo e disse: ‘sou inocente do sangue deste homem. Isto é lá convosco!’”
(Mt 27, 24b).
O gesto de lavar as mãos para se inocentar pelo sangue
derramado não é uma pratica romana, e sim dos judeus, foi instituído pela Lei
do Antigo Testamento, no livro de Deuteronômio (Dt 21). E Pilatos assim o fez,
para que os judeus não o responsabiliza-se pela morte do Rei dos Judeus.
Contudo, sentenciar um homem a morte só porque a multidão
estava tumultuando e por não querer perder os poderes que tem, não faz de
Pilatos inocente, e sim um covarde que não luta pelo o que é certo.
Assim, também é muitos cristãos. Muitos vivem uma vida boa,
mas não lutam pelo o que é certo e não se sentem no direito de lutar, acham que
não estão envolvidos e por essa razão não tem culpa.
Todavia, se vivemos em comunidade e permitimos que nossos
irmãos se percam no pecado, se não nos ajudamos mutuamente e se em nossa vida
esquecemo-nos dos outros, na verdade estamos agindo como Pôncio Pilatos.
Ao ver o mal no mundo e não o combatemos, achamos que o que
está acontecendo não nos cabe e que não fazemos nada por estar longe, estamos
condenando a Cristo e lavando as mãos para nos inocentar.
O cristão não pode e não deve fugir da pratica do bem.
Devemos fazer tudo o que esta em nosso alcance para promover a paz e o amor.
Viver em Cristo é lutar pelos inocentes, é se impor sobre o “sistema” que
oprime e destrói. É sair do conformismo e abrir mão dos bens terrenos, por um
mundo justo e igualitário, aonde todos tem voz e vez.
Assim instruí São Paulo: “Mas tu, ó homem de Deus, foge desses vícios e procura com todo empenho
a piedade, a fé, a caridade, a paciência, a mansidão. Combate o bom combate da
fé. Conquista a vida eterna, para o qual foste chamado e fizeste aquela nobre
profissão de fé perante muitas testemunhas. Em presença de Deus, que dá a vida
a todas as coisas, e de Jesus Cristo, que ante Pôncio Pilatos abertamente
testemunhou.” (I Tm 6, 11-13).
Que Deus os
abençoe, que o Espirito Santo te ilumine e que Maria Santíssima te acompanhe.
A paz de Cristo
esteja contigo e com sua família! Amém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário